domingo, 19 de dezembro de 2010

Entrevista José Joaquim Madeira

Por Nanda Rovere


José Joaquim Madeira, presidente da ONG Vida Longa e Saudável e proprietário da pousada Imperial, é oficial da Marinha, secretário de Governo e está em Mangaratiba há algumas décadas.

Natural de Duque de Caxias, morou em Guaratinguetá, Brasília e Rio de Janeiro. Foi a Mangaratiba a passeio, mas acabou se envolvendo com o seu cotidiano e começou a ajudar a população, fixando residência na cidade.

É o idealizador do Carnamar, desfiles de embarcações que tocam música e saem de Itacuruçá, proporcionando diversão aos moradores e turistas durante o carnaval. No evento, são tocadas músicas de carnaval, axé e pop. A procissão de embarcações faz o caminho entre Itacuruçá e Ilha Grande O barco mais animado e mais enfeitado é premiado pela municipalidade.

Para mais informações: http://josejoaquimmadeira.blogspot.com/

Mostra Rio - SP de Teatro de Rua – O que o Senhor pode falar sobre Mangaratiba?
José Joaquim Madeira - A cidade é balneária, tem 32mil habitantes, está dividida em distritos e separada pela Serra do Piloto. Temos mar, serras e cachoeiras. Aqui encontramos uma tranqüilidade e uma hospitalidade muito boa. O município, que é muito belo e próximo ao Rio de Janeiro, é voltado ao turismo. Temos grandes condomínios que geram empregos e nosso objetivo é que as pessoas venham para cá e tenham lazer e entretenimento.

MRS - Mangaratiba também possui riquezas históricas. O que pode nos falar sobre isso?
Madeira - Mangaratiba era rota dos escravos e sedia o primeiro teatro e a primeira estrada de rodagem do Brasil. Temos um acervo enorme, como o junco da Marambaia e os quilombolas; são riquezas culturais que vêem da época do Império. Aqui, nós tivemos um desenvolvimento na época do café, éramos responsáveis pelo seu escoamento. Com a chegada da Central do Brasil, no entanto, o escoamento passou a ocorrer através da estrada de ferro e a cidade perdeu o seu poder. Ela só voltou a ser conhecida e a se desenvolver com a construção da Rio - Santos. De lá pra cá existe um trabalho por parte dos governantes para que a cidade se desenvolva, sem perder a tranqüilidade.

MRS - O Sr. havia dito que pretende contribuir para o desenvolvimento cultural da cidade...
Madeira - Estamos realizando ações para que tenhamos uma identidade própria e para isso é necessário que se invista. O meu esforço em contribuir para que a Mostra fosse realidade, foi justamente para mostrar que o empresário e a iniciativa privada podem realizar projetos interessantes na área cultural. A praça cheia demonstrou que todos estão carentes de cultura e ávidos para que haja mais apresentações teatrais em Mangaratiba.

MRS - E o teatro, ele é utilizado para eventos?
Madeira - O teatro é uma ruína que está conservada, mas não tem aplicação imediata. Pretendemos reviver e humanizar o espaço, colocando lá atividades de artesanato e realizando peças. É um desafio que passo para os artistas da Mostra: Montarmos uma peça e apresentarmos naquele espaço.

MRS - Como avalia a vida cultural da cidade?
Madeira - O Ailton (Amaral) está desenvolvendo no colégio João Paulo II um curso de teatro, mas ainda não encontrou respaldo dos cidadãos. Está começando a aparecer um ou outro talento que participará da própria Mostra, mas é um trabalho árduo.
Na área de artes plásticas temos um grande talento, que é o Messias Neiva. Não há, no entanto, projetos que incentivem os artistas a produzirem. Por outro lado, a parte musical está saudável e realizamos recentemente o Festival Gospel de Adoradores, que mostrou o potencial dos nossos cantores. Agora, o desafio é desenvolver manifestações ligadas à música pop.

MRS - Quais as suas preferências culturais? Neste sentido, tem o hábito de assistir teatro de rua?
Madeira - Aprecio MPB e teatro; é muito bom ir ao Rio de Janeiro assistir a espetáculos. Estou lutando para montar um teatro em Mangaratiba e conto com a ajuda do Ailton e do Reinaldo Sant`Ana. Eles estão animados com isso e acredito que irão me ajudar a fazer com que tenhamos, pelo menos uma vez por mês, apresentações teatrais.
Quanto ao teatro de rua, assisto quando vou aos grandes centros e acho muito interessante porque os artistas são fantásticos.

MRS - Qual é o envolvimento da ONG Vida Longa e Saudável no cotidiano de Mangaratiba?
Madeira - Ela pode ser conhecida através do site www.vidalongaesaudavel.org.br Esta organização mantém um trabalho de preservação do meio ambiente, de promoção da vida saudável e busca orientar as pessoas em como viver bem, como alimentar-se de maneira saudável e fazer exercícios.

MRS - Qual a importância da Mostra para Mangaratiba e o que levou a apoiar o evento?
Madeira - A Mostra traz a Mangaratiba um momento que pode ser histórico. Se soubermos agir podemos transformar Mangaratiba num pólo de teatro de rua. O Ailton eu conheço devido à atividade cultural que ele desenvolve na cidade, mas não tínhamos uma aproximação maior. Recentemente, fui procurado por ele porque estava com dificuldade de conseguir patrocínio para a Mostra. O governo do estado já havia liberado verba, mas ele não estava conseguindo o apoio da hospedagem e para a alimentação dos artistas. Eu como tenho consciência da importância que tem a cultura para o povo, disse ao Ailton que hospedaria os grupos na posada da qual sou proprietário. Fizemos o possível para acomodar bem as quase 70 pessoas que participam do evento. Nosso objetivo era mostrar à população de Mangaratiba e a quem se negou a patrocinar a Mostra, que o teatro de rua é uma forma de entretenimento e transmite às pessoas um conteúdo importante. Me senti muito feliz com o resultado, bem como com a possibilidade de poder contribuir com a cultura do município em que eu moro e que amo.

MRS - No início da entrevista você citou o papel dos empresários em valorizar a cultura. E o poder público, como deve atuar?
Madeira - O poder público sempre tem que agir, até porque tem que participar com a segurança, iluminação e cessão do espaço. A forma como foi feita a Mostra provou que é possível fazer eventos culturais sem a presença do poder público, com patrocínios da iniciativa privada e das pessoas físicas. Realizar eventos e juntar a população e os empresários na busca de soluções, não somente na área cultural, mas em outras atividades que contribuam para que a população tenha uma qualidade de vida melhor, é o ideal para que os artistas consigam viabilizar os seus projetos.

MRS - O teatro então pode transformar o mundo?
Madeira - Sim, porque cada peça é uma mensagem e as pessoas que a recebem podem multiplicar o ensinamento. Quero sugerir para que as próximas mostras sejam temáticas. Um exemplo muito bonito é a peça dos atores de Angola, que mostraram lindamente os problemas da guerra, vividos pelo país e fazendo uma homenagem ao estado de guerra que estamos vivendo no Rio de Janeiro.

MRS - Como foi receber atores de Angola em Mangaratiba?
Madeira - Na minha opinião foi fantástico, mostrou aos moradores de Mangaratiba que a cidade é vista em todos os lugares do mundo. Ver que os cidadãos angolanos atravessaram o Atlântico para se apresentarem na nossa cidade, foi um orgulho para nós. Foi um prazer recebê-los e procuramos dar a eles todo o carinho que eles merecem.

Entrevista com a atriz Dulce Baptista da Fundação Sindika Dokolo - Luanda - Angola

Por Nanda Rovere

Dulce Baptista e Meirinho Mendes, artistas que representam a cultura angolana, se juntaram para apresentar ¨As Formigas¨ que com uma montagem tocante fala sobre uma guerra de sentido universal, que pode ser tanto a guerra pela qual Angola passou, quanto à ¨guerras¨ individuais pelas quais passamos em busca do nosso ¨eu¨.

Baseada no conto do francês Boris Vian, que foi publicado em 1949, a obra continua atual, suscitando reflexões sobre os valores humanos e a ética.
A peça esteve em Salvador e Curitiba e foi convidada para a VII Mostra de Teatro de Rua em Mangaratiba.
Dulce é a primeira vez que trabalha com teatro, já Meirinho, seu colega de cena, tem ampla experiência como ator e professor, viajando por diversos países da Europa.
Dulce foi convidada a participar do projeto pelo diretor Rogério de Carvalho e já veio ao Brasil duas vezes, para o Festival de Curitiba e uma apresentação em Salvador, e para a Mostra de Teatro de Rua Rio-São Paulo.
Nesta entrevista, a angolana fala sobre a Mostra em Mangaratiba, a arte em geral, sua impressão sobre o Brasil e aspectos da história e do cotidiano do seu país natal.


Mostra Rio - SP de Teatro de Rua - Como surgiu a oportunidade de participar do espetáculo As Formigas?
Dulce Baptista - Fui convidada porque falo o dialeto mucubal, que juntamente ao português, faz parte da língua falada na montagem.
Moro numa tribo localizada no sul de Angola, que está entre o deserto do Namibe e do Kalahari. Lá, o idioma original foi preservado e se constitui num dos poucos resquícios da cultura angolana após a colonização portuguesa.

MRS - Como surgiu o convite para participar da Mostra e como conheceram o curador Ailton Amaral?
DB - Ele nos viu em Curitiba e nossa vinda foi viabilizada devido ao apoio da Fundação Sindika Dokolo, a qual o meu colega Meirinho é ligado.

MRS - O que pode falar sobre a experiência de participar da Mostra?
DB - Apesar da saudade da família, marido e filho, que ficaram em Angola, estou satisfeita: A Mostra é um momento interessante para a interação entre as pessoas, conhecer gente do Rio e São Paulo e trocar experiências de vida e profissionais. Também proporciona acesso ao teatro a uma população que não tem acesso à cultura.
Como Mangaratiba é uma cidade do mesmo porte da qual resido, me senti bastante à vontade. Sempre me apresentei com As formigas em espaços fechados, fiquei surpresa quando soube que iria fazer a peça na praça.

MRS - Qual o balanço que faz da sua apresentação e como foi a receptividade do público?
DB - Foi um desafio, principalmente porque sou muito tímida; só consegui enfrentar a situação porque já conhecia algumas pessoas e isso me deu segurança. O público prestou atenção na encenação e aplaudiu calorosamente ao final e isso me deixou muito satisfeita.

MRS - Como é a cultura em Angola?
DB - Lá na minha tribo não há tradição de produção artística. As novelas brasileiras é que fazem muito sucesso. Por esse motivo, eventos que promovam o acesso da população à arte são sempre bem vindos. O que dificulta a efervescência cultural é o nomadismo no período das chuvas. Na capital Luanda, no entanto, a vida é muito agitada. Não conheço nada sobre o teatro, mas o angolano é um povo muito musical. O semba, estilo que dizem que tem origem no samba é o mais popular no país.

MRS - Como está a situação econômica do país?
DB - Está em desenvolvimento. O pais passou por uma guerra, mas está se reconstruindo e, apesar das diferenças culturais, é muito parecido com o Brasil. Tem pobres e ricos como aqui.

MRS - O que achou de Curitiba e Salvador?
DB - Me diziam que eu iria gostar da Bahia, mas conhecer Salvador, devido à grande quantidade de negros, não foi novidade para mim. Gostei bastante de Curitiba, das pessoas e da estrutura da cidade, que é muito bonita.

MRS - Novos projetos para o teatro?
DB - Não sei ainda se continuarei fazendo teatro, mas a experiência tanto no Brasil como na França foi de suma importância para o aprimoramento do meu conhecimento e um exercício para enfrentar o medo de falar diante de platéias.

MRS - Nos encontros da Rede Nacional de teatro falou-se muito na internet como meio para se divulgar o teatro de rua. Qual a sua opinião sobre o assunto?
DB - A possibilidade de gravar e registrar uma apresentação de teatro e colocá-la instantaneamente na Internet é uma oportunidade interessante para quem não pode estar nos locais em que os fatos acontecem, conhecer o trabalho dos artistas e opinar em caso de debates ou oficinas.

MRS - Os angolanos são adeptos das novas tecnologias?
DB - Sim, a Internet, por exemplo, faz sucesso entre os mais jovens. Tem-se a idéia de que o país é atrasado, mas ele está se desenvolvendo cada vez mais e as novas tecnologias fazem parte do cotidiano principalmente de quem mora nas cidades maiores.


Entrevista com Reinaldo Sant'Ana - Grupo Saiu Por Uma Porta

Por Nanda Rovere

Reinaldo Sant'ana é diretor executivo do grupo Entrou Por Uma Porta e diretor artístico do novo espetáculo Histórias Contadas e Compartilhadas, que foi encenado em Mangaratiba. São 22 anos de estrada, atuando na cidade do Rio de Janeiro e Manguinhos, locais onde mantem as suas unidades.
O artista fala sobre o seu trabalho, a vinda a Mangaratiba e coloca a sua opinião sobre a mostra e a cidade.


Mostra Rio - São Paulo de Teatro de Rua - Como é a interação entre vocês e a comunidade?
Reinaldo Sant'ana - Fazemos um teatro popular. Ele pode acontecer na rua, nos galpões, nas escolas, nos palcos burgueses. Montamos oficinas e capacitamos jovens e esse novo espetáculo tem jovens oriundos dessas oficinas.
Sempre procuramos divulgar a arte local nas nossas produções, em alguma cena, no figurino ou em qualquer outro elemento dos nossos trabalhos.


MRS - Tem algum exemplo que você pode citar?
RS - A entrada do boi, a entrada do zabumba e  a sanfona que são influências nordestinas porque em Manguinhos tem muitos imigrantes daquele estado.


MRS - Você disse que conhece o Ailton Amaral há anos. Como surgiu a oportunidade de se apresentar na Mostra?
RS - O Ailton eu conheço há trinta anos e fiz teatro de resistência com ele. Me inscrevi na mostra, como todo mundo, e a montagem foi selecionada.


MRS - O seu grupo consta na lista de agradecimentos da Mostra, qual a contribuição de vocês para a realização do evento?
RS - Emprestamos o nosso equipamento técnico. O Ailton resolveu colocar apoio cultural, mas na verdade foi uma parceria que fizemos. É uma forma de trabalhar em rede, se eu tenho, porque não vou ceder?


MRS - Como está o teatro em geral no estado do Rio?
RS - Tem dois problemas. O teatro de palcos tradicionais, burguês, sofre uma crise profunda, principalmente pelo alto valor dos ingressos.
O teatro de rua, por sua vez, é aquele que vai até as pessoas e ele precisa de apoio do governo ou empresários locais, para poderem chegar até o público


MRS - Como o seu grupo tem conseguido sobreviver por tantos anos?
RS - Nos mantemos com incentivo dos próprios participantes e com a elaboração de pequenos projetos. Acabamos de conseguir o Fomento e mantemos oficinas na rede de educação.


MRS - Como funciona o Fomento no Rio, tem semelhanças com o que é aplicado em São Paulo?
RS - O Fomento no Rio é só pra montagens ou pesquisas acadêmicas, diferentemente de São Paulo que há verba para pesquisas e também para a manutenção de temporadas. Além disso, em São Paulo a Lei é fruto da união de diversos grupos e artistas e aqui foi um ato governamental.


MRS - Fale da experiência de participar da Mostra e descentralizar a programação também nos distritos?
RS - Nos apresentamos em Itucuruçá e foi muito bom porque tivemos umas 300 pessoas assistindo.Foi interessante segurar as pessoas num espetáculo que dura aproximadamente uma hora e vinte.A Mostra está muito boa, muito bem produzida, mas temos que pensar que todos os participantes podem sugerir algumas coisas.
MRS - O que você sugere?
RS - Penso que para a próxima edição será preciso pensar em uma alternativa para a ocorrência de chuvas e é fundamental que os grupos troquem experiências e possam dar sugestões para a produção.


MRS -Você está acostumado a  participar de festivais e mostras? Na sua opinião, qual a importância desses encontros para os artistas e para o público?
RS - É transformador. Os grupos se conhecem e passam a ter um trabalho mais estético, mais lógico. A mostra é como se fosse um aprimoramento profissional. São três dias de interatividade e formação.
 MRS - Já conhecia Mangaratiba? Qual é a sua impressão sobre a cidade?

RS - Sim, conheci há cerca de quinze anos, numa época em que a cidade era matagal ainda. Estou fascinado com a mudança rápida. Foi muito bom apresentar o espetáculo aqui. As pessoas trouxeram cadeirinha para nos assistir. Achei isso uma coisa fantástica, a cidade se transformou num teatro a céu aberto.


MRS - Gostaria de salientar algo que tenha faltado nesta entrevista? Alguma observação final?RS - Mangaratiba deve pensar em trazer regularmente grupos para apresentar teatro e para construir uma nova estética. Isso é um processo longo, mas Mangaratiba tem tudo para traçar um bom caminho cultural.

Entrevista com os atores do espetáculo “Salomé & Yocanaãn – Profanando a Profanação” - Grupo Arteatro

Lell Trevisan, Paulo Arthur e Ana Carolina

Por Nanda Rovere

Lell Trevisan nasceu em São Paulo. Foi estudar teatro em Araraquara e depois voltou à capital em 2005. Faz teatro de rua. Participou dos grupos Polícromo Alecrim ( Araraquara) e Cia Sem Máscaras ( São José dos Campos).
Em Mangaratiba, com o colega Paulo Arthur, encenou "Salomé e Yucanaãn Profanando a Profanação", de sua autoria, baseado na obra Salomé do escritor Oscar Wilde. Conta a história do amor entre Salomé e o prisioneiro Yucanaãn.
Arthur Lemos e Ana Carolina são estreantes no teatro. Arthur está em cena ao lado de Trevisan, Ana é responsável pela sonoplastia da montagem. A direção é do Ailton Amaral e  a produção do Arteatro.

Mostra Rio-São Paulo de Teatro de Rua - Como ocorreu a sua vinda para Mangaratiba?
Lell Trevisan - Eu estava trabalhando com uma companhia chamada Cia Sem Máscaras, em São José dos Campos e o Ailton me ligou no finalzinho de julho me pedindo para fazer um espetáculo chamado Se Toc, aqui em Mangaratiba. Mas durante o processo houve um problema técnico e paramos de ensaiá-lo.  Aí resolvemos montar Salomé & Yocanaãn.

MRS - Depois da estréia na Mostra, já tem mais apresentações agendadas?
Trevisan - Já temos apresentações para janeiro em algumas cidades, entre elas, Paraty. Espero que possamos apresentá-la por muito tempo.

MRS - Como foi o processo de trabalho?
Trevisan - O Ailton não usa cenários, mas 50 m de panos que viram cenários e figurinos. Eu e ele nos conhecemos há cerca de 7 anos e eu sempre tive vontade de ser dirigido por ele. Além de atuar no espetáculo, sou produtor executivo da Mostra. A experiência foi muito instigante porque Mangaratiba é uma cidade muito deficiente na área cultural. Quando vim para cá estava com vontade de parar de fazer teatro, mas a paixão pela ¨arte falou mais alto¨.

MRS - O que achou da mudança da Mostra de Paraty para Mangaratiba?
Trevisan -Paraty é uma cidade muito bonita e era muito gostoso ir para lá prestigiar a mostra, mas Mangaratiba estava precisando de um evento como este, pois, como já citei, a cidade é carente na área cultural.  Valeu a pena me dedicar para que tudo saísse o melhor possível.

MRS - Como surgiu o interesse pelo teatro?  É a sua estréia, não?
Arthur Lemos -  Sim. Quando o Ailton abriu vagas para curso de teatro aqui em Mangaratiba, eu me interessei e comecei a fazer aulas com ele na escola João Paulo II. Não estavamos em número suficiente de alunos para estudarmos textos com muitos personagens, então, ele decidiu fazer aulas/ensaios. Como o Lell disse, ensaiamos Se Toc, mas houve muitas trocas de elenco; sobraram Lell, eu e Ana ( que está nos ajudando na produção) e achamos melhor montar Salomé.

MRS - Como é receber pessoas de fora para um evento cultural?
Ana Carolina -Muito cansativo, mas ao mesmo tempo prazeroso. É muito bacana conhecer novas pessoas e ver espetáculos de rua com grupos de várias localidades.

MRS -  O que vocês podem falar sobre a vida cultural em Mangaratiba:
Arthur - Ana - O que acontece aqui são apresentações nas escolas. A população sente falta de eventos culturais e por isto estão gostando muito da Mostra. Não há uma tradição cultural, mas acredito que se apresentações de teatro ocorrerem com mais frequência as pessoas  criarão o hábito de prestigiar espetáculos.

Entrevista com Reikrauss Benemond - Teatro Reikrauss - Curitiba

Entrevista com ReiKrauss Benemond, diretor da Teatratividade Companhia Teatral do Paraná

Por Nanda Rovere 

Curitiba é um pólo cultural importante. Na área teatral, sedia o Festival de Curitiba, que acontece anualmente e recebe grupos de todo o país.

São inúmeros espetáculos de rua e de palco, que se apresentam em capitais e/ou no interior do Brasil. O que acontece no evento é um espelho do que estará em cartaz durante o ano, pois por lá passam espetáculos já em temporada e também estréias.

O diretor, ator e professor ReiKrauss Benemond é carioca. Criou na capital paranaense a Teatratividade Companhia Teatral do Paraná. Desde 2007, participa da vida cultural curitibana.

Para Reikrauss, um dos méritos do Festival é impulsionar os artistas a formarem grupos e estarem sempre em atividade.

Com sede na Praça Tiradentes - Teatro Reikrauss, um dos pontos mais importantes de Curitiba, o grupo tem conquistado reconhecimento do público e da crítica.

Com a peça Defeitos de Família, de França Júnior, abriu oficialmente a Mostra Rio São Paulo de Teatro de Rua 2010, levando para a praça central de Mangaratiba uma divertida confusão familiar.

Nesta entrevista, é possível conhecer um pouquinho do processo de criação do grupo, a opinião de Reikrauss sobre a vida cultural de Curitiba, como foi a participação do grupo na mostra, entre outras informações.


Mostra Rio - São Paulo de Teatro de Rua - Como é fazer teatro fora do eixo Rio - SP? Como divulgam os trabalhos que realizam?
ReiKrauss Benemond - Fazer Teatro é difícil em qualquer lugar do país, claro que RJ e SP têm uma demanda maior de público, mas proporcionalmente acho igual. Os trabalhos são divulgados através da assessoria de imprensa do Teatro, mala direta, flyers cartazes, etc.

MRS - Como está hoje Curitiba quanto ao desenvolvimento cultural?
ReiKrauss - Cada dia que passa Curitiba forma novos grupos como muita competência, o Festival de Curitiba estimula a pratica teatral e a formação de platéia que perpetua durante o ano.

MRS - Existem grupos de teatro de rua em Curitiba?
ReiKrauss - Existe sim, na semana passada aconteceu a "Mostra Rueiros de Teatro"; infelizmente não participamos, mas foi muito legal e interessante.

MRS - Para vocês, que moram numa grande cidade, há diferenças entre se apresentar no interior e na capital?
ReiKrauss - Para apresentação não vejo diferença. Como o interior é mais carente de cultura, o público se aproxima mais dos artistas, existe um assédio, uma curiosidade sobre o trabalho.

MRS - Como foi a experiência de se apresentar em Mangaratiba, viajar tanto tempo?
ReiKrauss - Foi uma grande honra, um prazer, uma sensação única. Levamos 14 horas para chegar ao RJ devido a trânsito, chuva... mas quando nos apresentamos o cansaço, problemas, etc., somem. É isso que escolhemos e não importa as dificuldades.

MRS - O que achou da Mostra? Conseguiu ver outros espetáculos? O que pode falar sobre eles?
ReiKrauss - Eu adoro a Mostra! E achei o lugar perfeito para fazer, levar teatro para aqueles menos favorecidos. Assisti aos outros espetáculos e todos com uma linha diferente de fazer teatro, foi uma mostra de diversas linguagens.

MRS - Na visão de vocês, o que se produz fora do eixo Rio SP e no interior tem conseguido chegar a uma grande quantidade de público?
ReiKrauss - Particularmente acho que depende do tipo de espetáculo, de como é feita a divulgação, etc.

MRS - Na mostra se falou muito sobre a Internet como meio de divulgação. Como o grupo usa a internet para a divulgação dos trabalhos?
ReiKrauss - Somos o primeiro Teatro da America Latina a transmitir TODOS os espetáculos em nosso site gratuitamente, isso acaba se tornando um marketing viral, com isso tivemos acessos de diversas partes do País e do exterior. Utilizamos tambem o youtube e redes sociais. A internet hoje é um meio essencial para ajudar na divulgação do teatro.

MRS - Como é o processo de criação da Cia?
ReiKrauss - O processo varia por espetáculo. Em "Defeito de Família" começamos por leituras de vários textos até ser escolhido este. Resolvemos trabalhar a máscara e, através disso, começamos um trabalho de expressão corporal e mímica . Inspirados na Comédia Dell arte, fizemos diversos improvisos com temas pré definidos e a construção das personagens foi feita na rua, observando as pessoas que transitavam o local. Como o texto é ágil, com falas rápidas, a trilha sonora foi elaborada de uma maneira que não comprometesse o andamento do espetáculo e valorizasse as nuances do texto, buscando também uma pesquisa cômica com os sons, tivemos várias aulas de canto e preparação vocal. Depois partimos para os instrumentos.

MRS - Como vocês conseguem manter a sede e colocar em pé os espetáculos
ReiKrauss - A sede se mantém através de bilheteria com os nossos espetáculos, com cursos e locação para outros grupos e para eventos.

MRS - Como é a escolha do que será realizado especialmente para a rua e os trabalhos para palcos?
ReiKrauss - Não é uma coisa programada, acontece. Os nossos espetáculos são feitos tanto paras as ruas como para os palcos.

O teatro de rua invade Mangaratiba

Por Nanda Rovere

A VII Mostra Rio-SP de Teatro de Rua reuniu cerca de 16 grupos, representando diversas cidades do interior desses estados e também das capitais.

Em sua sétima edição, o evento foi criado com o objetivo de promover o encontro de grupos que pesquisam e trabalham com a linguagem de teatro de rua.
  
Nos três dias de apresentações, entre 26 e 28 de novembro de 2010,  foi possível entrar em contato com diversas maneiras de se fazer e pensar o teatro.

Os habitantes de Mangaratiba tiveram a oportunidade de conhecer grupos que representam a produção do teatro de rua na atualidade, nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
  
O Teatro de Rua é a forma mais democrática de acesso à cultura, pois promove arte de forma gratuita. E esta mostra, produzida pelo Grupo Arteatro, com a curadoria e organização de Ailton Amaral e Vivaldo Franco e  patrocínio da Secretaria Estadual de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e Pousada Imperial, com apoio cultural do Grupo Entrou Por Uma Porta e Madeira's Clube deixa seus realizadores de parabéns por levar a Mangaratiba um evento importante, que anteriormente acontecia em Paraty,  cidade  também pertencente ao estado do Rio de Janeiro.
  
Com reuniões diárias, membros do Movimento Brasileiro de Teatro de Rua/RJ
e artistas que mostraram o seu trabalho no evento, discutiram ações para fortalecer e viabilizar produções de teatro de rua e a cultura em seus diversos aspectos, bem como tornar rotina o uso de novas tecnologias para melhorar o intercâmbio entre produtores e atores, já que a mídia não cede espaço a quem se dedica a esse tipo de arte.
  
Nesta mostra, que contou com convidados de locais fora do eixo Rio-São Paulo, como o  Grupo do Teatro Reikrauss de Curitiba/PR, e os atores Dulce Baptista e Meirinho Mendes, de Angola, a discussão sobre o papel da Internet na divulgação da cultura foi um dos pontos em destaque.
  
Reinaldo Sant’ana e Alex Maia Sanchez, este especialista em Tecnologia de Informação , mostraram aos participantes da Mostra uma idéia interessante para que peças de teatro e discussões sobre o fazer teatral possam ser vistas em todo o mundo. Realizam um trabalho chamado streaming, isto é, filmam debates e apresentações teatrais na íntegra e as colocam disponíveis em blog ou sites, no momento em que estão acontecendo. Para eles, a Internet, ao congregar pessoas de todas as regiões do planeta, possibilita que um número significativo de pessoas conversem on line e dêem a sua opinião sobre um determinado assunto. Um modo interessante para se propor e colocar em prática idéias defendidas por pessoas que nem sempre podem se encontrar( mas que via computador podem articular ações que contribuam para a evolução das artes cênicas.
  
A proposta de formar um núcleo para pesquisar e colocar em prática esse trabalho foi colocada em pauta.  Foi acordado formar uma rede on line de teatro de grupo, primeiramente formada pelos que estiveram em Mangaratiba para a Mostra e colocá-la disponível em redes sociais, como o twitter, para assim mais pessoas participarem. A sua aplicação dependerá da união entre os artistas.

Na praça central Robert Simões, o primeiro grupo a se apresentar foi a Cia Dois Banquinhos, Rio de Janeiro, com o espetáculo: “Os Charlatões Mais Sinceros do Mundo, que fez uma homenagem ao palhaço e, através das técnicas circenses, prendeu a atenção do público, suscitando diversão e abrindo oficialmente a 7ª Mostra de Teatro Rio São Paulo, que contou também com o tradicional desfile dos artistas participantes.
  
Logo em seguida, ¨Defeito de Família¨ , com o  Grupo do Teatro Reikrauss de Curitiba/PR , deu continuidade ao evento também na praça central. A peça conta com humor maus entendidos que sugerem o relacionamento de um curandeiro com duas mulheres numa mesma casa: a mãe e a filha. Essa situação gera confusões porque coloca em risco o casamento da moça com um rico pretendente..
  
No sábado, 27, a história da evolução humana foi contada com humor e ironia no espetáculo: “Procurando Homo...”. Brincadeiras com o público e o uso das técnicas e da linguagem do circo ajudaram a trupe Sinequanon, Rio de Janeiro, a fazer sucesso com os espectadores de todas as idades. 

A alma angolana e a história desse país africano foram os temas principais de um espetáculo, sensível e atual, intitulado  “As Formigas". Encenado em português e Mucubal (dialeto das tribos da Namibia) pelos atores Dulce Baptista e Meirinho Mendes, esta montagem, especialmente convidada para a mostra, e apoiada pelo núcleo cultural da Fundação Sindika Dokolo - Luanda/Angola, teve como tema a guerra .

Para terminar a noite, ¨Buk na Rua – Teatro Noturno Para Adultos Insones”, da Anti Cia de Teatro – Rio de Janeiro, causou variadas respostas do público, desde a atenção completa à encenação, à manifestações exacerbadas de adolescentes e adultos que ficaram impressionados com o teor forte do texto.

No último dia do evento,  o palhaço Jeca de Pirassununga/SP, Reinaldo Facchini, apresentou uma montagem simples e tocante,“Esperando na Rodo”.  O artista faz uma reverência ao interior do Brasil. Um homem deseja ser famoso e a caminho da cidade grande passa por momentos marcantes numa rodoviária. Lá, ao se perder do seu primo, vive a experiência da solidão e da dúvida sobre o que realmente quer para o seu futuro.

Em seguida, o Grupo Entrou por uma Porta – Rio Janeiro, comemorando uma trajetória de 22 anos, estreou “Histórias Contadas e Compartilhadas”. A peça mescla atores profissionais e iniciantes e tem como mérito a valorização da nossa cultura popular e da nossa história, com cenários, figurinos e trilha primorosos.

O Grupo Arteatro, sob a direção de Ailton Amaral, encenou ¨Salomé & Yocanaãn – Profanando a Profanação”.  A montagem trouxe o ator paulista Lell Trevisan, que também assina o texto, ao lado do iniciante e talentoso Arthur Lemos. Trevisan ainda precisa aprimorar o seu personagem, que está muito parecido com a versão antiga dessa peça. Inspirados na obra Salomé, de Oscar Wilde, os dois atores interpretam vários personagens e contam com humor a paixão de Salomé pelo prisioneiro Yocanaãn.
  
Os Pambazos Bros, que participaram pela terceira vez da Mostra e foram os penúltimos a ocuparem a praça, encenaram “Porongo Vaudeville”. Cativaram a platéia com a sua alegria e números que mesclam humor e circo.
  
Para terminar o evento, o grupo Rosa dos Ventos, que em 2005 esteve em Paraty com Saltimbembe Mambembancos, mostrou A Farsa do Advogado Pathelin, o seu mais recente trabalho. Com humor, dinamismo, troca de personagens e técnicas circenses apuradas, o grupo fechou com mérito a noite de domingo.
  
Participar da VII da Mostra Rio São Paulo de teatro de Rua foi uma oportunidade ímpar para verificar que os nossos artistas de rua são criativos, talentosos e apaixonados pelo fazer teatral; além disso estão cada vez mais preocupados em oferecer produções caprichadas.

O seu idealizador e seus apoiadores merecem aplausos por valorizar o teatro de rua e por proporcionar ao público e participantes uma emocionante confraternização.

O sucesso da Mostra, pôde ser medido pela satisfação dos espectadores e pela quantidade de pessoas que prestigiou os espetáculos, que também estiveram nos distritos de Itacuruçá, Muriqui, e na Praia do Saco.

Sempre há aspectos a evoluir, mas a oitava Mostra acontecerá com a aprovação dos moradores de Mangaratiba, que prestigiaram as montagens. Será mais uma oportunidade para que o teatro esteja cada vez mais presente em municípios de pequeno porte e motive reflexões do nosso cotidiano.

Em Mangaratiba, para quem não sabe, está o teatro mais antigo do Brasil – fruto da época de ouro do café...Mas a cidade não tem tradição de teatro e a mostra pode ser a semente para a formação de grupos e oficinas.

A integração entre os artistas foi solidificada pela alimentação e hospedagem realizada em um único local. Se em Mangaratiba o tempo corre devagar, ideal para quem gosta de sossego, o clima entre os artistas foi de discussão e celebração do teatro de rua, que na opinião de todos deve favorecer o senso crítico.