domingo, 19 de dezembro de 2010

O teatro de rua invade Mangaratiba

Por Nanda Rovere

A VII Mostra Rio-SP de Teatro de Rua reuniu cerca de 16 grupos, representando diversas cidades do interior desses estados e também das capitais.

Em sua sétima edição, o evento foi criado com o objetivo de promover o encontro de grupos que pesquisam e trabalham com a linguagem de teatro de rua.
  
Nos três dias de apresentações, entre 26 e 28 de novembro de 2010,  foi possível entrar em contato com diversas maneiras de se fazer e pensar o teatro.

Os habitantes de Mangaratiba tiveram a oportunidade de conhecer grupos que representam a produção do teatro de rua na atualidade, nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
  
O Teatro de Rua é a forma mais democrática de acesso à cultura, pois promove arte de forma gratuita. E esta mostra, produzida pelo Grupo Arteatro, com a curadoria e organização de Ailton Amaral e Vivaldo Franco e  patrocínio da Secretaria Estadual de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e Pousada Imperial, com apoio cultural do Grupo Entrou Por Uma Porta e Madeira's Clube deixa seus realizadores de parabéns por levar a Mangaratiba um evento importante, que anteriormente acontecia em Paraty,  cidade  também pertencente ao estado do Rio de Janeiro.
  
Com reuniões diárias, membros do Movimento Brasileiro de Teatro de Rua/RJ
e artistas que mostraram o seu trabalho no evento, discutiram ações para fortalecer e viabilizar produções de teatro de rua e a cultura em seus diversos aspectos, bem como tornar rotina o uso de novas tecnologias para melhorar o intercâmbio entre produtores e atores, já que a mídia não cede espaço a quem se dedica a esse tipo de arte.
  
Nesta mostra, que contou com convidados de locais fora do eixo Rio-São Paulo, como o  Grupo do Teatro Reikrauss de Curitiba/PR, e os atores Dulce Baptista e Meirinho Mendes, de Angola, a discussão sobre o papel da Internet na divulgação da cultura foi um dos pontos em destaque.
  
Reinaldo Sant’ana e Alex Maia Sanchez, este especialista em Tecnologia de Informação , mostraram aos participantes da Mostra uma idéia interessante para que peças de teatro e discussões sobre o fazer teatral possam ser vistas em todo o mundo. Realizam um trabalho chamado streaming, isto é, filmam debates e apresentações teatrais na íntegra e as colocam disponíveis em blog ou sites, no momento em que estão acontecendo. Para eles, a Internet, ao congregar pessoas de todas as regiões do planeta, possibilita que um número significativo de pessoas conversem on line e dêem a sua opinião sobre um determinado assunto. Um modo interessante para se propor e colocar em prática idéias defendidas por pessoas que nem sempre podem se encontrar( mas que via computador podem articular ações que contribuam para a evolução das artes cênicas.
  
A proposta de formar um núcleo para pesquisar e colocar em prática esse trabalho foi colocada em pauta.  Foi acordado formar uma rede on line de teatro de grupo, primeiramente formada pelos que estiveram em Mangaratiba para a Mostra e colocá-la disponível em redes sociais, como o twitter, para assim mais pessoas participarem. A sua aplicação dependerá da união entre os artistas.

Na praça central Robert Simões, o primeiro grupo a se apresentar foi a Cia Dois Banquinhos, Rio de Janeiro, com o espetáculo: “Os Charlatões Mais Sinceros do Mundo, que fez uma homenagem ao palhaço e, através das técnicas circenses, prendeu a atenção do público, suscitando diversão e abrindo oficialmente a 7ª Mostra de Teatro Rio São Paulo, que contou também com o tradicional desfile dos artistas participantes.
  
Logo em seguida, ¨Defeito de Família¨ , com o  Grupo do Teatro Reikrauss de Curitiba/PR , deu continuidade ao evento também na praça central. A peça conta com humor maus entendidos que sugerem o relacionamento de um curandeiro com duas mulheres numa mesma casa: a mãe e a filha. Essa situação gera confusões porque coloca em risco o casamento da moça com um rico pretendente..
  
No sábado, 27, a história da evolução humana foi contada com humor e ironia no espetáculo: “Procurando Homo...”. Brincadeiras com o público e o uso das técnicas e da linguagem do circo ajudaram a trupe Sinequanon, Rio de Janeiro, a fazer sucesso com os espectadores de todas as idades. 

A alma angolana e a história desse país africano foram os temas principais de um espetáculo, sensível e atual, intitulado  “As Formigas". Encenado em português e Mucubal (dialeto das tribos da Namibia) pelos atores Dulce Baptista e Meirinho Mendes, esta montagem, especialmente convidada para a mostra, e apoiada pelo núcleo cultural da Fundação Sindika Dokolo - Luanda/Angola, teve como tema a guerra .

Para terminar a noite, ¨Buk na Rua – Teatro Noturno Para Adultos Insones”, da Anti Cia de Teatro – Rio de Janeiro, causou variadas respostas do público, desde a atenção completa à encenação, à manifestações exacerbadas de adolescentes e adultos que ficaram impressionados com o teor forte do texto.

No último dia do evento,  o palhaço Jeca de Pirassununga/SP, Reinaldo Facchini, apresentou uma montagem simples e tocante,“Esperando na Rodo”.  O artista faz uma reverência ao interior do Brasil. Um homem deseja ser famoso e a caminho da cidade grande passa por momentos marcantes numa rodoviária. Lá, ao se perder do seu primo, vive a experiência da solidão e da dúvida sobre o que realmente quer para o seu futuro.

Em seguida, o Grupo Entrou por uma Porta – Rio Janeiro, comemorando uma trajetória de 22 anos, estreou “Histórias Contadas e Compartilhadas”. A peça mescla atores profissionais e iniciantes e tem como mérito a valorização da nossa cultura popular e da nossa história, com cenários, figurinos e trilha primorosos.

O Grupo Arteatro, sob a direção de Ailton Amaral, encenou ¨Salomé & Yocanaãn – Profanando a Profanação”.  A montagem trouxe o ator paulista Lell Trevisan, que também assina o texto, ao lado do iniciante e talentoso Arthur Lemos. Trevisan ainda precisa aprimorar o seu personagem, que está muito parecido com a versão antiga dessa peça. Inspirados na obra Salomé, de Oscar Wilde, os dois atores interpretam vários personagens e contam com humor a paixão de Salomé pelo prisioneiro Yocanaãn.
  
Os Pambazos Bros, que participaram pela terceira vez da Mostra e foram os penúltimos a ocuparem a praça, encenaram “Porongo Vaudeville”. Cativaram a platéia com a sua alegria e números que mesclam humor e circo.
  
Para terminar o evento, o grupo Rosa dos Ventos, que em 2005 esteve em Paraty com Saltimbembe Mambembancos, mostrou A Farsa do Advogado Pathelin, o seu mais recente trabalho. Com humor, dinamismo, troca de personagens e técnicas circenses apuradas, o grupo fechou com mérito a noite de domingo.
  
Participar da VII da Mostra Rio São Paulo de teatro de Rua foi uma oportunidade ímpar para verificar que os nossos artistas de rua são criativos, talentosos e apaixonados pelo fazer teatral; além disso estão cada vez mais preocupados em oferecer produções caprichadas.

O seu idealizador e seus apoiadores merecem aplausos por valorizar o teatro de rua e por proporcionar ao público e participantes uma emocionante confraternização.

O sucesso da Mostra, pôde ser medido pela satisfação dos espectadores e pela quantidade de pessoas que prestigiou os espetáculos, que também estiveram nos distritos de Itacuruçá, Muriqui, e na Praia do Saco.

Sempre há aspectos a evoluir, mas a oitava Mostra acontecerá com a aprovação dos moradores de Mangaratiba, que prestigiaram as montagens. Será mais uma oportunidade para que o teatro esteja cada vez mais presente em municípios de pequeno porte e motive reflexões do nosso cotidiano.

Em Mangaratiba, para quem não sabe, está o teatro mais antigo do Brasil – fruto da época de ouro do café...Mas a cidade não tem tradição de teatro e a mostra pode ser a semente para a formação de grupos e oficinas.

A integração entre os artistas foi solidificada pela alimentação e hospedagem realizada em um único local. Se em Mangaratiba o tempo corre devagar, ideal para quem gosta de sossego, o clima entre os artistas foi de discussão e celebração do teatro de rua, que na opinião de todos deve favorecer o senso crítico.

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