domingo, 19 de dezembro de 2010

Entrevista com Reinaldo Sant'Ana - Grupo Saiu Por Uma Porta

Por Nanda Rovere

Reinaldo Sant'ana é diretor executivo do grupo Entrou Por Uma Porta e diretor artístico do novo espetáculo Histórias Contadas e Compartilhadas, que foi encenado em Mangaratiba. São 22 anos de estrada, atuando na cidade do Rio de Janeiro e Manguinhos, locais onde mantem as suas unidades.
O artista fala sobre o seu trabalho, a vinda a Mangaratiba e coloca a sua opinião sobre a mostra e a cidade.


Mostra Rio - São Paulo de Teatro de Rua - Como é a interação entre vocês e a comunidade?
Reinaldo Sant'ana - Fazemos um teatro popular. Ele pode acontecer na rua, nos galpões, nas escolas, nos palcos burgueses. Montamos oficinas e capacitamos jovens e esse novo espetáculo tem jovens oriundos dessas oficinas.
Sempre procuramos divulgar a arte local nas nossas produções, em alguma cena, no figurino ou em qualquer outro elemento dos nossos trabalhos.


MRS - Tem algum exemplo que você pode citar?
RS - A entrada do boi, a entrada do zabumba e  a sanfona que são influências nordestinas porque em Manguinhos tem muitos imigrantes daquele estado.


MRS - Você disse que conhece o Ailton Amaral há anos. Como surgiu a oportunidade de se apresentar na Mostra?
RS - O Ailton eu conheço há trinta anos e fiz teatro de resistência com ele. Me inscrevi na mostra, como todo mundo, e a montagem foi selecionada.


MRS - O seu grupo consta na lista de agradecimentos da Mostra, qual a contribuição de vocês para a realização do evento?
RS - Emprestamos o nosso equipamento técnico. O Ailton resolveu colocar apoio cultural, mas na verdade foi uma parceria que fizemos. É uma forma de trabalhar em rede, se eu tenho, porque não vou ceder?


MRS - Como está o teatro em geral no estado do Rio?
RS - Tem dois problemas. O teatro de palcos tradicionais, burguês, sofre uma crise profunda, principalmente pelo alto valor dos ingressos.
O teatro de rua, por sua vez, é aquele que vai até as pessoas e ele precisa de apoio do governo ou empresários locais, para poderem chegar até o público


MRS - Como o seu grupo tem conseguido sobreviver por tantos anos?
RS - Nos mantemos com incentivo dos próprios participantes e com a elaboração de pequenos projetos. Acabamos de conseguir o Fomento e mantemos oficinas na rede de educação.


MRS - Como funciona o Fomento no Rio, tem semelhanças com o que é aplicado em São Paulo?
RS - O Fomento no Rio é só pra montagens ou pesquisas acadêmicas, diferentemente de São Paulo que há verba para pesquisas e também para a manutenção de temporadas. Além disso, em São Paulo a Lei é fruto da união de diversos grupos e artistas e aqui foi um ato governamental.


MRS - Fale da experiência de participar da Mostra e descentralizar a programação também nos distritos?
RS - Nos apresentamos em Itucuruçá e foi muito bom porque tivemos umas 300 pessoas assistindo.Foi interessante segurar as pessoas num espetáculo que dura aproximadamente uma hora e vinte.A Mostra está muito boa, muito bem produzida, mas temos que pensar que todos os participantes podem sugerir algumas coisas.
MRS - O que você sugere?
RS - Penso que para a próxima edição será preciso pensar em uma alternativa para a ocorrência de chuvas e é fundamental que os grupos troquem experiências e possam dar sugestões para a produção.


MRS -Você está acostumado a  participar de festivais e mostras? Na sua opinião, qual a importância desses encontros para os artistas e para o público?
RS - É transformador. Os grupos se conhecem e passam a ter um trabalho mais estético, mais lógico. A mostra é como se fosse um aprimoramento profissional. São três dias de interatividade e formação.
 MRS - Já conhecia Mangaratiba? Qual é a sua impressão sobre a cidade?

RS - Sim, conheci há cerca de quinze anos, numa época em que a cidade era matagal ainda. Estou fascinado com a mudança rápida. Foi muito bom apresentar o espetáculo aqui. As pessoas trouxeram cadeirinha para nos assistir. Achei isso uma coisa fantástica, a cidade se transformou num teatro a céu aberto.


MRS - Gostaria de salientar algo que tenha faltado nesta entrevista? Alguma observação final?RS - Mangaratiba deve pensar em trazer regularmente grupos para apresentar teatro e para construir uma nova estética. Isso é um processo longo, mas Mangaratiba tem tudo para traçar um bom caminho cultural.

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